Pular para o conteúdo principal

Descaso público estimula violência contra mulher

Socos, ameaças, xingamentos, humilhações e, por último, um ataque recente com faca que poderia ter lhe retirado a vida. Isso é parte do relato de Ana (nome fictício), ao registrar nesta semana a primeira denúncia contra o companheiro na Delegacia da Mulher de Diadema. A violência contra a mulher é realidade e preocupa. Prova disso é que 90% do tempo e ações do GT Gênero, do Consórcio Intermunicipal do ABC, são voltados para a questão. Na região, não há varas e juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Se houvesse o serviço, os trâmites dos processos encaminhados à Justiça seriam mais rápidos, diz a coordenadora do GT Gênero, Maria Cristina Pechtoll, também responsável pelo Departamento de Enfrentamento à Violência contra a Mulher e Equidade de Gêneros da Secretaria de Políticas para as Mulheres de Santo André. "Esse é um dos grandes desafios, fazer valer os instrumentos da Lei Maria da Penha", enfatiza. A legislação, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, é comemorada no Estado dia 7 de agosto.
O problema, segundo a coordenadora, é que o governo do Estado define as condições para a instalação dos espaços, como aluguel de salas e recursos humanos, mas os projetos são inviabilizados economicamente porque os municípios já são bastante onerados pelos orçamentos. Maria Cristina diz que a violência contra a mulher é um problema cultural e está inserida na sociedade machista. "É preciso desconstruir essa cultura de insubordinação da mulher, de ser posse do homem", afirma.
Na Delegacia de Defesa da Mulher de Diadema, foram instaurados 393 inquéritos em 2013, alta de 40% em relação a 2012. Do início do ano até o momento foram 127. Do total dos casos, 80% são de lesão corporal, em especial murros no rosto e chutes nas pernas. Segundo a delegada titular, Renata Lima de Andrade Cruppi, mais de 50% das vítimas têm até 30 anos, filhos, não trabalham e os companheiros fazem bicos. Já 90% dos agressores fazem uso de drogas e álcool. A maioria das agressões ocorre em função de ciúmes e inconformismo do término da relação. "A tortura psicológica é a pior: as mulheres perdem a autoestima, vontade de viver e ficam 100% submissas. Se os caras dizem que são inúteis, elas acreditam", diz.
Renata diz que o grande desafio é fazer com que os juízes tenham a mesma sensibilidade das delegadas no atendimento às vítimas e na punição do agressor. Em Diadema, os casos graves são encaminhados para a Casa Beth Lobo, que oferece serviço social, psicológico e acompanhamento jurídico. A casa também ajuda a mulher no rompimento com o ciclo da violência doméstica.
A socióloga e secretária de Políticas Públicas para Mulheres de Santo André, Silmara Conchão, diz que o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) sinalizou a criação de anexos de violência contra a mulher em todos as cidades. "Mas os recursos têm de ser dos próprios municípios. A responsabilidade que é do Estado passa para a municipalidade. Então, puxei o freio de mão, mas não fechei as mãos. Queremos atuar junto com os governos e não acirrar brigas", critica.

De acordo com o Núcleo de Promoção à Saúde e Prevenção de Violências Conviva, da Coordenadoria de Vigilância à Saúde de Diadema, em 2013 foram notificados 504 casos, sendo 72,6% contra mulheres. Do total, 42% eram negras (pretas e pardas), 33% eram brancas e 25% ignoradas. Do total de agredidas, 4,6% eram gestantes. Dos 504 casos, 205 foram notificados pela Casa Beth Lobo, que, em 2012, registrou 185 ocorrências, e no primeiro semestre de 2014 teve mais 30.


Notícia retirada do site:         http://www.reporterdiario.com.br/Noticia/471524/descaso-publico-estimula-violencia-contra-mulher/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Maria Quitéria

Maria Quitéria nasceu na cidade de Feira de Santana, Bahia, em 1792. Apelidada de “Joana d’Arc brasileira”, Maria Quitéria pediu ao seu pai permissão para se alistar no exército para a luta da independência brasileira. Seu pai disse não e, é claro, ela foi mesmo assim: cortou os cabelos, vestiu as roupas do cunhado, e ficou conhecida como Soldado Medeiros. Seu pai descobriu isso poucas semanas depois, mas o comandante do Batalhão de Maria não deixou que ela fosse embora por ser uma excelente soldada. Após a descoberta trocou o uniforme masculino por saias e adereços. Sua coragem em ingressar em um meio masculino chamou a atenção de outras mulheres, as quais passaram a juntar-se às tropas e formaram um grupo comandado por Quitéria. Lutou em diversas batalhas e sua bravura foi reconhecida ainda em sua época. Com a derrota das tropas portuguesas, em julho de 1823, Maria Quitéria foi promovida a cadete e reconhecida como heroína da Independência. Dom Pedro I deu a ela o título de “Ca...

Relato de Elba Ramalho veiculado no youtube sobre violência doméstica.

A intenção da publicação não tem fundo religioso, mas de compartilhar situações que qualquer mulher pode estar sujeita.   "Há três anos,  Elba Ramalho , 62, terminou o  relacionamento com Cezinha , músico que tocava em sua banda. Atualmente, circula na internet um vídeo de um testemunho  que a cantora deu durante um encontro de fiéis de uma Igreja Católica. Nele, ela  afirma que o namorado a agredia. 'Ele bebia, ficava agressivo. A gente se batia. Eu, que não mato nem um mosquito, já estava no ponto de, ele dava uma e eu dava cinco. Ou seja, eu tinha caído. Eu estava na boca da fornalha', ela declarou. Além disso, a cantora também fez questão de afirmar no vídeo, que foi postado em 2012, que sua relação com ele era de 'carne pura, não existia nada de alma' e que estava na decadência. (...) 'Não posso dizer que ele era uma psicopata, seria um pecado meu, não posso julgar . Estava muito apaixonada. Você fica aprisionada', disse no vídeo, que já tem qu...

Mulher, vítima de espancamento pelo marido, tem os olhos perfurados

A operadora de caixa Mara Rúbia Guimarães, de 27 anos,   que foi torturada e teve os olhos perfurados pelo ex-marido , em Goiânia, afirmou que procurou a polícia por quatro vezes para denunciar o agressor, que continua foragido. “Ouvi de uma delegada que as coisas não são tão fáceis assim. Não é apenas chegar e falar. Mas foi. Ele me cegou e agora vou viver o resto da minha vida na escuridão”, lamentou. No entanto, a adjunta da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), Aline Leal, diz que a mulher procurou ajuda uma vez, no dia 11 de março deste ano. Na ocasião, a investigação não foi adiante porque a operadora de caixa, com medo, não teria pedido proteção. “Feito o registro da ocorrência, a vítima manifesta pela instauração do inquérito e, no decorrer, ela pode solicitar as medidas protetivas. Aí enviamos o material ao Judiciário para avaliação. Mas isso não ocorreu”, explicou. Após o ataque, um dos olhos da mulher não pôde ser recuperado. Agora, ...