A
coordenadora do Observatório de Mulheres Assassinadas, Elizabete Brasil,
defendeu nesta quarta-feira um "grande investimento" na prevenção da
violência contra as mulheres, considerando que a falha nesta área tem
contribuído para a "perpetuação" do fenômeno.
Dados
divulgados hoje pelo Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA), baseados nos
crimes noticiados pela imprensa no primeiro semestre do ano, revelam que 24
mulheres foram assassinadas e 27 foram vítimas de tentativa de homicídio, tendo
a maioria sido morta pelos maridos, companheiros ou namorados.
Para
Elizabete Brasil, também diretora da área de violência de gênero da União de
Mulheres Alternativas e Resposta (UMAR), estes números são
"alarmantes" e demonstram que o fenômeno da violência contra as
mulheres se mantém, o que "leva a questionar as estratégias de prevenção e
a forma como todo o sistema responde às situações da violência doméstica".
Os
dados mostram que, "ano após ano, três ou quatro mulheres" são
mortas, por mês, pelos seus companheiros, maridos ou em relações familiares
próximas.
"Demonstram
também que as situações de femicídio não estão desconexas de situações de
violência doméstica vivenciadas pelas mulheres", disse à agência Lusa
Elizabete Brasil.
Para
a UMAR, Portugal "não tem feito estratégias de prevenção e não tem
combatido as causas estruturais do fenômeno, pelo que a manutenção e a
repetição destes números vão ocorrendo ano após ano".
Portugal
tem estado "a trabalhar muito na área da prevenção secundária e terciária,
muito no apoio às vítimas, mas muito pouco na prevenção do fenômeno",
observou Elizabete Brasil.
Segundo
um estudo da Universidade do Minho, um quarto da população universitária diz já
ter agredido ou já ter sido agredida durante a vida.
Para
a responsável, a "perpetuação da violência" acontece, porque
"não se mexe na estrutura e nas causas estruturais da violência e que
assentam na desigualdade estrutural de gênero".
Há
15 anos que Portugal tem políticas importantes nesta área, "mas está na
hora de um grande investimento ao nível da prevenção", para diminuir
"a prevalência da vitimação em Portugal e no contexto das relações de
intimidade", reiterou.
"Aquilo
que precisamos é ter uma cultura de cidadania, de igualdade e de igualdade de gênero",
que precisa de ser interiorizada desde "muito tenra idade", e apostar
na prevenção primária nas escolas, de forma integrada, nas áreas da educação,
da cultura e da comunicação.
Elisabete
Brasil ressalvou, no entanto, que "as estratégias de punição" devem
estar sempre a par de todas estas medidas, assim como as estratégias de apoio,
que devem manter-se.
"Não
basta a contabilização das vítimas, isso é um exercício contabilístico que em
nada traz mudança para a vida real das pessoas e os seus quotidianos",
frisou.
O
que é necessário é uma "alteração dos padrões" de como as relações
decorrem, e acabar com a mentalidade que ainda existe de que bater nas mulheres
é normal e que é algo que faz parte de uma relação de conjugalidade ou de
intimidade, acrescentou.
Notícia retirada do site: http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=756525&tm=8&layout=121&visual=49
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