Desafios para a igualdade no mercado de trabalho
A participação da mulher no mercado de
trabalho vem crescendo nos últimos anos, fenômeno que é observado pelas
pesquisas do IBGE (PNAD) e do Dieese/Seade (PED). Estima-se que, em
2014, de cada 100 mulheres em idade ativa, 51 estavam no mercado de
trabalho. Comparada à inserção dos homens, para os quais de cada 100 em
idade ativa havia 72 ocupados, ainda existe uma grande diferença em
relação à participação das mulheres.
Observa-se que a participação feminina no mercado de
trabalho enfrenta iniquidades a serem superadas. Uma das desigualdades
se refere à remuneração, pois, em média, as mulheres recebem 75% do que
ganham os homens, distância que vem diminuindo (em 2004 era 63%). Essa
desigualdade ocorre porque as mulheres ocupam postos de trabalho que
pagam menores salários, alguns tipicamente femininos; porque há empregos
tipicamente masculinos que pagam melhor e aos quais as mulheres não tem
acesso; porque elas têm maior dificuldade para ascender aos postos de
direção ou aos melhores empregos, entre tantos outros motivos.
Entretanto, quando há igualdade de oportunidades no acesso ao posto de
trabalho, observa-se que as mulheres superam essa desigualdade, como no
caso de concursos públicos ou quando a empresa tem políticas de
igualdade de gênero.
A desigualdade de oportunidades no mercado de trabalho
enfrentada pelas mulheres é consequência de outra. A função social de
reprodução da vida as coloca em condição de inferioridade, pois a
maternidade é um fator que ainda impede, de forma velada ou explícita,
que acessem postos de trabalho. Além disso, em uma sociedade na qual os
cuidados com a família e as atividades domésticas não são
compartilhados, as mulheres assumem, quase exclusivamente, essas
tarefas, o que torna praticamente impossível que elas tenham a mesma
assiduidade ao trabalho que os homens e, por isso, sofrem discriminação
por parte das empresas.
Deve-se considerar também que a dupla
jornada de trabalho exercida pelas mulheres é funcional para o capital,
pois as atividades domésticas realizadas por elas não são remuneradas. O
conceito de trabalho produtivo está relacionado às atividades que
resultam na produção de bens ou serviços com valor econômico e que são
contabilizadas no cálculo do PIB. O trabalho reprodutivo inclui uma
série de atividades que permitem a sobrevivência e reprodução da
família, que precisam ser renovadas a cada dia e possibilitam o
funcionamento da sociedade e a reprodução da força de trabalho. Esse
trabalho continua invisível à luz das estatísticas e dos levantamentos
de atividades consideradas “econômicas” e é considerado “um não trabalho
produtivo”.
Dados do IBGE (Síntese de Indicadores Sociais) de 2014
indicam que a jornada de trabalho total das mulheres é de 56,7 horas por
semana, sendo 35,5 horas relativas ao trabalho principal e 21,2 horas
destinadas a afazeres domésticos. Em 2004, 91,3% das mulheres ocupadas
realizavam afazeres domésticos e de cuidados. Em 2014, eram 90,7%. Entre
2004 e 2014 o número de homens ocupados que realizam afazeres
domésticos subiu de 46,1% para 51,3%, mas ainda é muito inferior ao
observado entre as mulheres.
Para criar as condições de oportunidades
de acesso ao mercado de trabalho, é preciso que o Estado adote políticas
públicas que possibilitem a igualdade de condições na vida cotidiana,
com a oferta de equipamentos públicos de qualidade e em quantidade
suficiente para atender à demanda (creches, educação infantil e básica
em tempo integral, lavanderias públicas, restaurantes, dentre outros).
Para evitar que algumas destas iniciativas reforcem a tradicional
divisão sexual do trabalho e a reprodução das desigualdades, elas devem
ser direcionadas a homens e mulheres, considerando-os igualmente
responsáveis pelas tarefas domésticas e pelos cuidados com familiares.
Por outro lado, em um contexto de construção da corresponsabilidade
pelas atividades domésticas e busca de equilíbrio entre a vida laboral e
a vida familiar, essas reivindicações devem ser assumidas por homens e
mulheres.
Nas empresas, por sua vez, é necessário que haja uma
cultura organizacional que valorize o equilíbrio entre trabalho e vida
familiar. É necessário também que haja a participação dos funcionários
de ambos os sexos e de suas organizações na definição de medidas a serem
adotadas. O desafio fundamental é lutar pela igualdade de oportunidades
de trabalho e salários para homens e mulheres, pelo aumento e igualdade
na licença paternidade e maternidade, para que as empresas garantam –
para homens e mulheres – tempo para desempenharem suas responsabilidades
familiares.
O modelo tradicional de conciliação entre trabalho e
família, ou seja, homens inseridos no mercado de trabalho e mulheres
responsáveis pelas atividades domésticas e de cuidados, não responde
mais ao cenário atual, pois importantes transformações aconteceram no
interior das famílias e no papel que as mulheres desempenhavam dentro
delas. O número de famílias chefiadas por mulheres vem aumentando, assim
como os arranjos familiares monoparentais com filhos/as, que não contam
com a renda de dois cônjuges, tem menor renda familiar e estão mais
vulneráveis à pobreza.
Não há como superar a desigualdade de
gênero no mercado de trabalho sem criar uma nova relação social, sem
avançar no equilíbrio da distribuição das tarefas domésticas e
responsabilidades nos cuidados com a família. Isso requer valorizar o
trabalho reprodutivo, garantir equipamentos públicos de apoio à
conciliação entre o trabalho e a vida familiar e pessoal, o
reconhecimento como trabalho não remunerado a atividade doméstica, a
redistribuição das atividades de cuidado entre homens e mulheres, entre
as famílias, o Estado, o mercado de trabalho e a sociedade.
Noticia retirada de: http://brasileiros.com.br/2016/02/desafios-para-igualdade-no-mercado-de-trabalho/
Comentários
Postar um comentário